terça-feira, 27 de outubro de 2015

Pensando fora da caixa

Pesquisar um determinado tema ao longo de muitos anos pode resultar em descobertas fantásticas, insights poderosos ou becos sem saída que obrigam o pesquisador a realizar uma pausa para avaliar todos os percursos desenvolvidos e buscar novos caminhos para descobrir o “x” da questão. Claro que os processos não são iguais para todos, mas é preciso estar aberto ao universo infinito de possibilidades que todas as pesquisas oferecem. Sempre digo aos meus orientandos que toda pesquisa é constituída de aspectos positivos e negativos, ambos são fundamentais para o processo de amadurecimento acadêmico e superação dos obstáculos. O problema é que ao concluir uma dissertação ou tese, as pessoas só relatam o que foi bom durante a pesquisa e ignoram os equívocos, desvios, dificuldades etc. A questão é que muitas pessoas podem ter a mesma dificuldade que o outro e o relato de como um determinado obstáculo foi superado, pode poupar meses de trabalho de um colega. As pesquisas sobre o uso de tecnologias na Educação, incluindo a Educação a Distância, sempre desembocam em elementos que, embora importantes, não me parecem suficientes para explicar o quadro que observamos hoje. Concluir que a apropriação tecnológica nas escolas não acontece de forma plena porque falta de estrutura, os professores são resistentes, a formação é inadequada etc., é gastar tempo, esforços e dinheiro com o que pode ser verificado em visitas simples nas escolas ou nos ambientes virtuais. Entretanto, se a resposta não é tão óbvia, porque não encontramos outros elementos que expliquem a realidade encontrada? Se não encontramos, estamos procurando no lugar correto? O fato é que as chamadas teorias tecnológicas na Educação não são tão diversificadas assim e nem foram aplicadas aos diferentes contextos educacionais existentes. Curiosamente, as pesquisas mais amplas são desenvolvidas por empresas ou organizações, como, por exemplo, Fundação Telefônica, Unesco etc. Venho me sentindo desconfortável com as minhas opções teóricas nos últimos anos e resolvi buscar novas possibilidades em outras áreas do conhecimento novos caminhos para trabalhar com o meu campo de pesquisa. O primeiro movimento foi realizar um projeto de pesquisa com foco nas boas práticas dos professores na rede e com o uso de tecnologias na sala de aula. O segundo movimento foi pesquisar realidades em escolas públicas fora do país, onde a tecnologia digital já se tornou invisível no fazer pedagógica. A terceira (ainda em andamento) é reunir os esforços com grupos de pesquisa de outras áreas para inserir outras dimensões no percurso investigativo. Sacrilégio? Blasfêmia? Mistureba? Talvez, mas vamos ver o que encontramos, só precisamos aguardar um pouco...

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Para não dizer que não falei das flores... (ou sobre o fim da UAB)

Vou registrar um comentário breve sobre o fim da UAB apenas porque a EaD é um dos temas deste blog, mas morro de preguiça de escrever sobre o óbvio (ou sobre o que parece óbvio para mim). Eu escrevi sobre a necessidade de institucionalização da EaD em maio de 2010 (o post pode ser acessado aqui). Naquela época, fiz uma crítica ao modelo adotado no país como política pública de Educação a Distância porque é um modelo que engessa e, pior, não determina a qualidade dos cursos. A crítica está presente na minha tese e nos artigos publicados sobre o tema desde 2009, ou seja: nenhuma novidade no país da memória curta! A notícia do fim da UAB deixou as universidades em polvorosa, várias instituições suspenderam as novas entradas de alunos e foi iniciada uma discussão sobre os critérios de credenciamento, qualidade, funcionamento e recursos. É curioso como questões tão essenciais ao funcionamento da EaD sejam retomadas apenas no momento em que o financiamento está em risco, e que instituições que sempre se posicionaram de forma contundente contra a EaD, agora se posicionem a favor da modalidade nas IES públicas. Também me causa espanto ver pessoas que estiveram na gestão do modelo UAB durante anos, se posicionarem agora "contra tudo que esta aí". Oi? Coerência, minha gente... A UAB acabou? Já acabou tarde, a política de Educação a Distância no Brasil precisava de mudança há muito tempo! Quero deixar claro que sou totalmente a favor da luta pela manutenção do financiamento para a EaD, preferencialmente em outro modelo de repasse de verbas. A EaD precisa deixar de ser um programa temporário, com mecanismos precarizados de pagamento de professores e disponibilidade de recursos. Se o processo de institucionalização da EaD nas instituições públicas estivesse consolidado, a modalidade não estaria em risco. Eu gostaria de dizer que estou otimista e que espero que sejam injetadas novas ideias, novas propostas, novas pessoas e novas concepções de Educação a Distância nas instituições públicas. Infelizmente, não parece que isso vai acontecer, considerando o teor das vozes que estão clamando por "mudanças". De qualquer forma, o pontapé inicial foi dado. Quando não é possível mudar as estruturas enraizadas e viciadas em determinados setores, a extinção é um santo remédio. Se vamos conseguir reconfigurar as políticas de EaD em outras perspectivas, não sei dizer. Espero, sinceramente, que sim.

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