sábado, 10 de dezembro de 2016

Golpe, greve, ocupação e resistência: a nada mole vida de uma professora universitária

Vivemos tempos sombrios com deslocamentos difíceis onde até a manipulação descarada dos fatos foi nomeada como “pós-verdade”. O nosso modelo de democracia, assim como em vários outros países, já não é grande coisa, mas os grupos dominantes que pensam que são os donos do país resolveram piorar ainda mais, provocando rupturas que não sabemos nem por onde começar a consertar, se é que vamos conseguir consertar. No meio de um cenário político e econômico caótico, a minha universidade decidiu entrar em greve e mesmo sem estar convencida de que a greve é o melhor instrumento de luta neste momento, eu apoiei a greve por dois motivos: a causa é legítima e a maioria decidiu. Assim funciona o processo democrático e antes de reclamar dos 54 milhões de votos que não foram respeitados nas eleições para presidente, é preciso respeitar a decisão dos colegas em optar pela greve. As minhas dúvidas ou restrições não são (e não devem ser) importantes diante da decisão coletiva. Ser contra a greve e continuar trabalhando como se nada estivesse acontecendo na universidade, no país e no mundo, é acreditar que as decisões da maioria não devem ser respeitadas, desconsiderando a democracia. E o contrário de democracia, todo mundo sabe o que é.

Os alunos ocuparam o Centro de Educação causando uma série de dificuldades para o nosso trabalho (dããã, é claro, o objetivo de uma ocupação é esse mesmo!). Respeito o legítimo direito de manifestação de todos os alunos, mesmo que isso me traga vários transtornos. Penso que a ocupação deverá ter um fim em algum momento ou organizar uma outra estratégia porque não é viável ocupar um espaço público para sempre (a não ser que você seja um latifundiário com grande poder político e econômico, aí você pode ocupar as terras devolutas da União sem ser incomodado, mas isso é outra história). O que eu penso não é importante no momento porque a decisão da maioria dos professores do CE foi apoiar a ocupação dos alunos. Se eu acredito na democracia, preciso respeitar a decisão. Simples assim. Quem ignora ou desvaloriza o movimento de ocupação dos alunos deveria conhecer de perto o que eles estão fazendo. Ninguém deixa a sua própria casa para viver precariamente se não estiver convicto de que a luta por uma causa vale a pena. Não é preciso concordar com eles, mas é essencial respeitá-los.

O problema maior não é nem continuar a trabalhar com greve decretada (sim, temos vários colegas trabalhando em outros Centros), mas sim a inexistência de uma ação crítica e a necessidade de impor uma normalidade ao cotidiano que é tão artificial quanto os argumentos que usam para ignorar a greve. A questão é que a forma como nos posicionamos diante do momento histórico em que estamos vivendo diz (e dirá sempre) muito sobre nós, inclusive sobre o nosso caráter. Não adianta se justificar depois, quando a vida exige que escolhamos um lado, é preciso ter coragem e certeza de que escolhemos o lado certo. A escolha é pessoal e cada um sabe o peso que terá que sustentar no futuro. Eu fiz a minha escolha e por isso este texto foi publicado aqui.

Quem quiser saber mais sobre o golpe, é só clicar em qualquer um dos links: http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Livro-Resistencia-ao-golpe-de-2016-nasce-movido-a-indignacao/4/36205

http://www.diariodocentrodomundo.com.br/

Para saber mais sobre a ocupação, visite a seguinte página do Facebook: https://www.facebook.com/OcupaUFPE/

Mais informações sobre a greve dos professores na UFPE: http://adufepe.org.br/

Boa leitura!

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